O Sindicato dos Médicos de Niterói, São Gonçalo e Região (Sinmed) e o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) realizaram, durante a manhã de quinta-feira (13/03), um ato público em frente ao Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap).
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A manifestação faz parte da campanha “Quanto vale o médico?”, lançada em outubro do ano passado, e mobilizou aproximadamente 50 profissionais. O evento, que foi coordenado pelos presidentes do Sinmed, Clóvis Abrahim Cavalcanti, e Márcia Rosa de Araújo, do Cremerj, teve ainda a participação do vereador José Antonio Fernandez, ZAFF (PDT), único representante da classe política presente. Os três, em pronunciamentos através de um megafone, explicaram ao público e aos médicos o motivo do ato e o teor das reivindicações.
O grupo exigiu melhorias nas condições de trabalho e aumento de salário. Segundo a presidente do Cremerj, Márcia Araújo, não há incentivo de trabalho para a classe. “O caos instalou-se na rede pública. Nosso trabalho é exaustivo e não somos remunerados para isso. O salário do médico é uma vergonha e é isso que está em falta nos hospitais!”, indignou-se Márcia.
A presidente do Cremerj falou ainda que os residentes não se interessam em trabalhar na rede pública, que é o maior mercado para o médico. “Quem está começando na profissão e vê esse descaso com a Saúde e não quer trabalhar para órgãos públicos, prefere exercer a profissão no setor privado. Por quê? Porque com o salário que se ganha não dá para sustentar a família”, reclamou.
O presidente do Sinmed, Clóvis Cavalcanti, enfatizou os baixos salários dos médicos na rede pública de saúde. Segundo Clóvis, a categoria ganha uma média de R$ 1,5 mil por mês, sendo o salário base fixado entre R$ 200 e R$ 300, menos de um salário mínimo, que é de R$ 415,00.
Clóvis enfatiza que o salário, mesmo, é uma miséria e que não dá para o profissional se manter. Segundo ele, o valor total só chega a R$ 1,5 mil devido as gratificações, que cessam quando o médico se aposenta, passando este a receber uma pensão de R$ 200 ou R$ 300.
O coordenador da região II do Cremerj, que abrange Niterói, Alkamir Issa, afirma que o setor precisa de investimentos maciços.
“É inegável que todos os hospitais sofrem com superlotação. Se falta gaze, imagina outros remédios? Trabalhamos no caos. O Antônio Pedro hoje faz parte do modelo assistencialista, mas é um hospital universitário. A tabela do SUS paga menos de R$ 2 por atendimento”, afirmou Issa.
O vereador ZAFF recebeu informações de que o Hospital Universitário Antônio Pedro recebe um repasse de R$ 21 milhões por ano e que isso seria um dos motivos para o péssimo funcionamento da unidade. Funcionários afirmam que faltam médicos especialistas, remédios, material e equipamentos para exames e até roupas de cama.
Diante disso, ZAFF prometeu cobrar um posicionamento da Comissão de Saúde da Câmara Municipal. Disse o vereador: “Se o governo não cuida bem do Hospital Antônio Pedro e nem trata os médicos com a dignidade que eles merecem, quem sai perdendo é a população que necessita de cuidados, principalmente na área de emergência. E isso é um problema de todos, pois a emergência de um hospital público não visa classe econômica ou social. Para ali vão desde o mais humilde assalariado até um rico empresário que por ventura sofra um acidente de carro ou seja vítima de assalto com ferimentos. Portanto, esta luta deve ser de todos: dos médicos, da população e nossa, os políticos. Já está na hora de parar de colocar a culpa nos profissionais de saúde pelo mau atendimento nos hospitais, não só o HUAP, como o Azevedo Lima, o Orêncio de Freitas ou o Carlos Tortelly. Se fala tanto em bilhões de reais para o PAC, mas os governos municipal, estadual e federal não dão a mínima para a Saúde. Por isso passamos hoje por esta vergonhosa epidemia de dengue e outras doenças que deveriam ter sido erradicadas, devido ao descaso do poder público com o bem mais precioso, que é a vida humana.”
O Cremerj informou que a campanha vai continuar enquanto a situação não for revertida.