Decepção e revolta. Estes foram os sentimentos que marcaram o final da audiência pública realizada, na segunda-feira (dia 17/03), na Câmara Municipal de Niterói.
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Mais de 150 pessoas compareceram à reunião, solicitada pela Secretária de Serviços Públicos, Trânsito e Transportes, Dayse Monassa, para ouvir explicações sobre o Projeto Nit-Ponte, criado pela Prefeitura. Coube ao vereador José Antonio Fernandez, ZAFF (PDT) presidir a audiência pública. Este deixou a secretária à vontade para expor o projeto detalhadamente.
A decepção do público presente começou quando a secretária falou na execução de algumas medidas, como colocação de uma faixa para veículos na Avenida do Contorno, no trecho em frente ao DPO até a subida da Ponte Rio – Niterói, pelo lado direito; duas passagens subterrâneas (da Alameda São Boaventura e da Avenida Contorno até a Praça Renascença) e extensão do viaduto da Ponte até a Rua Marechal Deodoro.
Justificando o projeto, a secretária disse que o objetivo do Nit-Ponte é melhorar o tráfego de veículos nas vias de acesso à Ponte Rio – Niterói, desafogando assim o trânsito no município. “São quatro vias: as avenidas do Contorno, Feliciano Sodré e Jansen de Melo e a Alameda São Boaventura. Ao estendermos, por exemplo, o viaduto de descida da Ponte na Jansen de Melo, criaremos também uma subida na altura da Igreja de São Lourenço, para quem vem da Rua Marechal Deodoro em direção à Ponte. Tudo isso está sendo orçado pela ANTT”, informou Dayse Monassa, acrescentando que a Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa) irá construir outro viaduto, da Rua Marquês de Paraná, em direção à Avenida Amaral Peixoto.
Entre as intervenções previstas está também a construção de um “mergulhão” ligando a Avenida Amaral Peixoto à Rua Dr. Celestino, no Centro. O projeto provocou questionamentos entre os presentes à audiência, moradores do Bairro de Fátima, Centro e do Fonseca.
O Vereador ZAFF foi o primeiro a protestar contra o projeto Nit-Ponte. Mostrando várias fotos que apontavam irregularidades em ruas como Marechal Deodoro, Álvares de Azevedo e Alameda São Boaventura, com carga e descarga, sinalização precária e ausência de agentes de trânsito, ZAFF afirmou que ações urgentes deveriam ser tomadas contra quem trava o trânsito e prejudica a mobilidade urbana.
Prosseguindo, ZAFF disse que “Niterói precisa de soluções práticas e arrojadas que visem o futuro e não paliativos como viadutos, mergulhões e garagens subterrâneas, que enfeiam a cidade, causam terríveis impactos ambientais e de vizinhança e não trazem benefício nenhum. Devemos pensar no transporte coletivo de qualidade como Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e na ligação aquaviária, com lanchas saindo da Região Oceânica para a Estação das Barcas, no Centro.”.
E concluiu: “Em novembro do ano passado fiz duas emendas ao orçamento, propondo estudos para criação de transportes coletivos com Veículos Leves sobre Trilho (VLT) com estações em Maria Paula, Badu e Região Oceânica, ligando-se ao Terminal João Goulart. O mesmo estudo sugeri para transporte aquaviário, com lanchas ligando a Região Oceânica ao Centro de Niterói, assim como outras saindo de Charitas para o Centro e, quando a estação de São Gonçalo ficar pronta, todas fazendo a linha intermunicipal. Esta proposta foi vetada e, para minha surpresa, dois meses depois fiquei sabendo deste projeto Nit-Ponte pelos jornais, em pleno carnaval.”
Outros presentes fizeram uso da palavra, sempre questionando ou criticando o projeto. Abaixo, algumas declarações:
Eli Abreu: “Essas obras deveriam ter sido feitas junto com a Ponte Rio – Niterói. Hoje não fazem mais sentido. É preciso investir no transporte por via aquática para tirar os carros das ruas”.
Mauro Machado: “Um mergulhão na Amaral Peixoto até desafogaria as ruas São João e a Coronel Gomes Machado. Mas viaduto, nem pensar”.
José Ferreira de Carvalho: “O que engarrafa Niterói é a Ponte. Este Projeto Nit-Ponte só vai aumentar a poluição na cidade.”.
Moisés Corrêa Florindo: “Tendo ou não viaduto, o problema vai persistir, porque o problema é a Ponte. O nosso engarrafamento é bem menor de quem mora em Botafogo ou na Barra. Por isso questiono se vale à pena agredir a cidade com essas obras. Também temo pela segurança, já que viadutos deixam os locais escuros e desertos, como os casos do nosso Ponto Cem Réis ou o Paulo de Frontin, no Rio.”.
Mauro Machado: “Queria que a secretária pensasse mais sobre esta obra e que pensasse na qualidade de vida dos moradores das ruas Marquês de Paraná e Coronel Gomes Machado.”.
Na parte final da Audiência Pública, diante de tantos questionamentos, a secretária disse que se as pessoas tivessem mais educação no trânsito, este fluiria melhor. E a revolta dos presentes surgiu quando Dayse deixou claro que o Projeto Nit-Ponte deveria começar sua execução em julho, após sua aprovação no Tribunal de Contas do Estado.
Imediatamente o vereador ZAFF aparteou, dizendo que acreditava ser aquele encontro um debate democrático sobre o projeto para, respeitando as questões do público ser aperfeiçoado ou arquivado. Mas diante da afirmativa de que o Projeto Nit-Ponte é dado como certo pela Prefeitura, ZAFF então disse que vai enviar requerimento à Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa), responsável pelas obras, para que seja informado sobre o orçamento total da obra, as licenças ambiental, de impacto de vizinhança e de impacto viário, licitações e contratos. Depois, de posse das informações, ZAFF vai promover nova Audiência Pública para que o assunto seja debatido com total clareza.
Apoiado pelos presentes que não escondiam sua revolta, ZAFF disse que é preciso acabar com este sistema de promover Audiências Públicas já com o assunto fechado e contratos firmados: “Com a via expressa que acabou com a paz no Bairro de Fátima e o Corredor Viário da Alameda foi a mesma coisa. O povo deve ser ouvido e suas contestações ou sugestões devem ser levadas em conta”, concluiu ZAFF.